São quatro as estações do ano resultantes do movimento do Sol. Toda a gente tem disso conhecimento e, na organização das suas vidas, respeita normalmente os períodos mais propícios à sua vivência. As mais apetecidas são a Primavera e o Verão, se bem que o Outono, quando normal, é por cá conhecido como a primavera das ilhas, dado o clima ameno que nos oferece. A estação mais agreste é o inverno. Difícil é, por vezes a ela resistir, pelas tempestades que ocorrem durante essa estação e pelo próprio clima: chuvas e ventos, temperaturas baixas originando doenças várias.
Este ano, porém, tudo se alterou. O verão foi curto. O Outono vem sendo chuvoso e já com frio e até as tempestades: Haja em vista o furacão de meados de Outubro, que por aqui deixou marcas destruidoras.
Aqui há duas ou três dezenas de anos era bem diferente. Tudo vinha a seu tempo. O calor no Verão, o frio no Inverno. As estações intermédias eram quase sempre de temperatura amena. Na Primavera floriam as plantas de jardim, faziam-se as sementeiras para colher no Outono. O verão era quente e obrigava a fugidas para os sítios onde a temperatura era mais fresca. É por isso que o mês de Agosto era, e ainda é, o mês das férias, pois o trabalhar é mais difícil nessa época de canícula.
No Outono se fazem as colheitas dos milhos, pois dos trigos, colhidos em Agosto, já pouco se fala. E que belas eram as desfolhadas, as quais Júlio Dinis recorda em ”As Pupilas do Senhor Reitor” (pág.181). E vale a pena recordar: Julgo que pequeno será o número de leitores que não tenha assistido a uma esfolhada na aldeia ou que, pelo menos de tradição, não saibam a índole folgazã e tranquila deste género de trabalho, do qual ninguém procura eximir-se, pois antes espontaneamente correm de toda a parte a oferecer-lhe braços.
Por estas ilhas o mesmo acontecia. E acontecia porque agora raramente acontece. A maior parte das sementeiras de milho são destinadas à ensilagem.
E quem não recorda os serões de Inverno? A família reunida, cada qual com os seus trabalhos, ou escutar a leitura de um velho romance, de folhas já muito gastas de tanto ser usado, ou os contos ou “casos” contados ou recontados pelos mais velhos, enquanto o elemento feminino se ocupava em cardar, fiar e tecer as lãs colhidas em Setembro ou, mais recentemente, a fazer rendas ou tricô.
Não havia mobílias. Quando muito um arquibanco que servia também de “guarda-roupa”. Era na esteira de junco que a miudagem se sentava.
O ambiente era tépido porque o calor provindo do lar ou do forno estendia-se por toda a casa. Até mesmo porque o serão era feito na própria cozinha, o compartimento da casa onde a família, geralmente, se reunia, pois os outros compartimentos, bem poucos por vezes, só serviam de dormitórios... Na cozinha, primitivamente afastada da casa por causa dos incêndios, havia o lar e o forno e, num espaço algo afastado dessa zona com chão de madeira, ficava a mesa das refeições e os bancos para o descanso.
Actualmente, as habitações são providas de lareiras na própria sala de estar, ou de aquecedores eléctricos. Nas cozinhas, ficam os electrodomésticos e as bancas onde se confeccionam os alimentos. Há, quando possível, a mesa simples para os “pequenos almoços”.
Por esse Pico além, ainda existem as antigas moradias somente providas com as tradicionais cozinhas. No entanto, tudo se vai modificando e as habitações novas já dispõem de espaços modernos com todo o conforto que é possível imaginar-se.
Deixem-me, no entanto, recordar, na singeleza do meu rabisco, estas velharias, pois outros mais adestrados – os escritores que agora abundam – saberão melhor dizer e escrever da vida moderna que os rodeia.
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